segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Esses dias

                                    Nesses dias que não passam
                                    Que não andam,
                                    Correm nem...
                                    Passam anos, horas pairam...
                                    Bailam...
                                    Num espaço que não têm.
                                    Sempre penso quando passam,
                                    Queira Deus que não retornem...
                                    Se não voam,
                                    E não pousam...
                                    Que só passem.

                                   Será que adiante me esperam,
                                    Outros dias que me calam?
                                    E se vierem,
                                    (que não venham!)
                                    Saberei que eles passam...

                                    Esses dias são infinitos que se acabam...
                                    O pesar é que eles me tomam,
                                    E me sacodem - e me despertam -
                                    Esses ecos que não cessam...
                                    Nesses dias que não passam... 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sem Nome

Hoje eu te vi de soslaio,
Porque já te confundias na multidão igual
Não és mais a mesma pessoa
Não é sequer o antigo.
És um coração perdido
Mesmo, igual

Sua roupa, seu cheiro, seu habitual,
De longe,
Não passavam de cores
Que eu nem sei mais o nome,
Nem sei mais se a mistura é quente ou fria
Se tem doce ou se tem sal.

Naquele minuto oblíquo
Que me viu chegar
Não disse palavra, nem pode escutar
Seus olhos boiaram sei lá por que águas...
E no vão daquelas cores sem nomes
Um vento levou-te o que eu podia te dar:
Um sentir tão quieto,
Um silêncio tão reto,
Dentro do mais sincero desconhecer

 E foi tão rápido o samba,
Que entre o pulsar do pandeiro,
E um apito perdido na folia
Eu pude sentir o que preenchia
Aquele único e inteiro olhar que você me acenou:
- Eu sou a mesma espera.
  Sou da mesma esfera que nunca saí
  Eu sei o que perdi. 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Na roseira, na varanda, no corredor,
No parque , na garganta, no muro ao redor,
Nas cidades, nas estradas, no interior,
Nos oceanos, no raso, no profundo, no abissal,
No sal , no sol, na terra, na parede com vitral
Na madeira , nas igrejas, no andor

No ao redor,
No maior, no menor, no ínfimo.
No ritmo, na dança, na saia da bailarina
Na subida, na descida e na queda
No inverno, no verão, em todas as eras
Nas feras, nas belas e até no esplendor
Na planta do sertão, na flor do Igarapé,
No pé de carambola, na rosa do vendedor

Na arte, na verdade, em marte?
No tarde, no cedo, no medo
No jovem, no que já foi, no de mais idade
No frade, no gosto e na tatuagem
Na margem, mar, na pele do encantador
Nas idas, nas brigas, no rancor
Na ferida, na mentira, no que mais marcou

No querer e no não querer,
No não, no sim, no nó
No pó do pólen no vento, no tempo...
No mais, no menos, no emprestado
Nas poucas palavras, no verbo conjugado
No caso, no talho, no tosco e na cor do pudor.
Em mim, em ti, em mil
 no amor:

Casca, espinho e flor.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Entreaberto

Pouco abriu
E da fresta escorreu um lago de luz
Olha!
Tudo é meio assim:
Dentro e fora
E no meio:
Entreaberto

O limite é a escolha:
Entre dois lados,
Um de fora que observa
Certo de uma certeza – a incerteza do há de dentro.

Um de dentro que não mostra,
Tenta
Convida
Invoca
Tudo que há de fora.
Se dentro espreita: o que espera?

Excite os sentidos
Exerça a vida
Abra portas indispostas...
Olha!
Está tudo entre,
Tudo perto
Entre

Aberto