sexta-feira, 30 de março de 2012

Dentro da chuva


Dentro da chuva que não cessa
Chovem incontáveis alas...
Chovem sentimentos aquecidos pela pressa
De uma quimera repleta de desejos solares,
E que ardem, indolores, nos colares de uma canção antiga
Na voz de uma Marina,
Quem sabe um Caetano,
Talvez um Moska...

Dentro da chuva vertical vivem desejos oblíquos,
Cansados das festas paralelas de suas quedas.
Dentro da chuva vertical vivem outras chuvas
Curvas, horizontais, côncavas e convexas...
Dentro da chuva vivem chuvas de todas as cores,
Chuvas de todos os nomes,
Chuvas avessas.
Vivem sóis e estrelas alheios ao tempo.

domingo, 25 de março de 2012

O meu "eu" francês


Penso – agora – no que está por vir
E que neste instante – ainda – não é.
Ansiedade?
Idade?

N’importe pas!

Para cada coisa deve haver seu tempo.
Hoje, amanhã, depois... é questão de quando.
Portanto:
Quando penso – agora – no que estar por vir
Quero saber – especialmente
: quando.

Oubliez...!

... e consumir-se com o quando torna-se inevitável.
Evitavelmente irremediável
Irremediavelmente questionável
...

inutile!

vem e vão as horas
vem e vão os dias
e...
sim – a espera é em vão.
Tão pouco aproveitados os dias e horas,
Que ignorados
Vem e vão.

D’accord!

De manhã a luz do sol acorda tudo que é diurno
E brilha mais e brilha muito e brilha menos
E brilha até avermelhar num canto...
Até trazer num olho azul, um choro de estrelas.
A noite vem e dorme aquilo que se cansa
Com incontáveis luzes acesas...
E quando o quando é hoje
Eu prefiro o hoje.

Oui.

segunda-feira, 19 de março de 2012

A Dúvida


Duas aranhas enamoravam-se entre as flores lisas dos meus azulejos.
Cruzavam-se pelos ares, numa dança ensaiada,
Como se deslizassem por fios não tecidos
De uma teia intrincada,
Entre as flores rubras de seus desejos.

Trocavam micro carícias dentro de intermináveis segundos,
Mudos,
E logo se apartavam pelos intervalos frios da parede

Num breve correr de olhares para outros instantes
E as duas aranhas, entre as flores aromáticas da minha lembrança,
Já não estavam lá como antes.
Perderam-se entre as dores da paisagem concreta.
Não sei...

Será mesmo que eram amantes,
Ou são meus olhos de poeta?

quarta-feira, 14 de março de 2012

Seráoqueseria


Quando estou aqui, não sou feliz.
Quando lá estiver, não sei se serei.
Serei sim, menos triste que aqui
Ou serei mais feliz que nem sei...

Serei o que serei
Sereia no mar
Nem sei o que sei,
Só sei que será.

Será um saber do que é,
Será um será do passado.
Fora o que seria pra ser,
Fora tudo o que não se sabia?

Afora - tudo que fora para ser
Aflora na expectativa
Do que deverá tornar-se.
Agora toda gana de saber
Corre “serás” afora...

Será que serei o que deveria ter sido?
Será que serei?
Será que já fui?
Será que eu sei?

Será.
Seria.
É...