terça-feira, 25 de junho de 2013

Um poema que ainda não tem título, mas tem bastante espaço entre suas linhas

Pronto. Então tá. Sentado em frente ao computador nesta noite de segunda-feira, aliás, madrugada de terça, portanto terça... De novo, sentado em frente ao computador nessas primeiras horas de terça- feira, decidi escrever um poema. Acho que esse tal poema poderia se chamar esclarecimento, ou lembrete (lembrete é bom, acho bonito para um poema, especialmente esse!), ou hashtag qualquercoisadotipo.

O poema começa assim: numa dada semana do mês de junho, a maior cidade de um país chamado Brasil, que a título de lembrete, se chama São Paulo, foi palco de uma manifestação organizada por um movimento social denominado “passe livre”. Os componentes desse grupo protestavam contra o aumento nas passagens de transporte público da cidade. De repente, ouviu-se um burburinho nos jornais. Chamavam todos de vândalos. Chamavam-lhes assim pelos cantos dos jornais, pelos centros das tevês. Chamavam-lhes assim os Joãos, as Marias e os Arnaldos... BUM!

Depois do relâmpago, o trovão. Não, aqui nesse poema, primeiro veio o trovão e só depois o relâmpago cortou os céus, rasgando a multidão. Hora de outro lembrete. nesse país, onde vive essa São Paulo, a ordem, grafada e hasteada nas bandeiras, vez ou outra, ainda é mantida sob uma ressaca de excessos políticos e ideológicos não muito democráticos. Nada! Continuando... veio o relâmpago alegórico do poema e os tais “vândalos”, que portavam cartazes e palavras de protestos e pensamentos e questionamentos, e por vezes vinagres (porque menciono isso? Qual a relação existente entre dignidade e vinagre? Lembre-se: isso é um poema. E além do mais, que mal tem o vinagre?) foram recebidos pelas mãos pesadas  dos mantenedores da ordem pública e pelos olhos maliciosos do governo do estado. BUM!

Aí, depois de sangrarem, os “vândalos” foram chamados de manifestantes. E todo mundo virou manifestante ou "ex-vândalo", porque se mudou o olhar sobre o “vandalismo”. E num piscar de olhos, já tinha gente vaiando a presidenta da república, usando até a palavra impeachment nas redes sociais. Acontece que a manifestação era contra o abuso dos preços praticados nos transportes públicos (que são privados) e, logo em seguida, contra o abuso de força e resistência frente às manifestações populares e pacíficas. Só depois lembrou-se da corrupção. Prática, no tal país do poema, que é cronologicamente bem mais antiga do que a própria presidenta, só pra lembrar.

Lá no desfecho do poema ocorre um lembrete ao poeta desatento. O país onde vive essa São Paulo, que amarga uma ressaca autoritária e que abriga uma classe média conservadora, experimenta, há bem pouco tempo, medidas sociais que favorecem, também, e de forma praticamente inédita, uma parcela da população outrora marginalizada. Não de forma perfeita, já que está infestado (e" infestação" é a palavra com o conteúdo poético mais adequado. procure no dicionário.) desse tal autoritarismo histórico e dessa ideologia conservadora, também histórica. Então o poema decide que é hora de acabar, assim, num estalo. Pois o poema é que decide e não o poeta. O poeta é prolixo e dado a uma infinidade de lembretes, que ele, o próprio poema, já diz bem dentro de suas linhas, ou entre elas.