Provavelmente você está, neste exato momento, se perguntando
por quê. Ou não, simplesmente está a ler o texto por me conhecer e ter, digamos,
o hábito de me ler quando, ocasionalmente, escrevo por aqui. Ou nem isso,
chegou aqui por um erro de navegação na internet. Perdeu-se no labirinto
eletrônico e já que gosta de ler...
Eis a questão: ler. Levar dos olhos à cabeça, e consequentemente,
ao corpo, físico e metafísico, e daí todo tipo de processo e elaboração do
objeto de leitura.
Escrevo aqui para expor uma condição. Eu leio. Eu leio é a
condição. A condição pela qual eu gosto de entender o mundo (o que eu entendo
de mundo e o que eu não entendo nada) ou o que não é mundo. É uma espécie de
portal que pode me levar onde eu não estou naquele momento, aonde, talvez, eu
nunca vá (detesto pensar nisto!). Onde, finalmente, só acaba existindo pelo
simples fato de ser eu o leitor, uma vez que acredito em mundos particulares. Fosse
outro leitor, outro mundo, e assim um mundo para cada cabeça. E onde vai parar
isso, não sei. A menor ideia...
Posso simplesmente ir parar no que não é mundo. No sentimento,
nas sensações. no nada.
Vou sempre a algum lugar. Essa é a condição dentro da
condição: O movimento. Estamos sempre órfãos de algum lugar e desejando outro. Estamos
em trânsito. O que a leitura me proporciona, penso, é o prazer do trânsito, de
desfrutar a vida com maior amplitude. Se a vida é exatamente um trânsito, por que
não pavimentar mais a estrada, aumentar o percurso, sem de fato alterar o
trajeto? Pegar um trem bala, um jato, uma carroça, um cabriolet, um cavalo sem sela, um fusca, um conversível, asas...
uma varinha de condão. Obviamente não é para encurtar ou estender o tempo da “viagem”,
mas para explorar o espaço existente nesse caminho, nesse trânsito. É transitar
para além. É extravasar de transitar. É extransitar! (pirou, o João, coitado.)
Digo então, eu leio. E mais, eu gosto. E, ainda, eu gosto
das possibilidades de vidas dentro da vida. Portanto, se você, leitor, me vir
pela rua e se, por acaso, por acaso mesmo, porque é coisa rara, eu lhe contar
sobre o que leio, o que li, o que lerei, e, que deus lhe proteja, se resolver
falar do que escrevo, não pense mal de mim, nem faça conjecturas sobre o
destino da humanidade... ou faça. Só digo que não é necessário. Entenda todo
esse possível blá blá blá (lembre-se aqui da sua condição de raridade) como uma
metáfora para a vida, para contar como vejo o mundo ou como não gostaria de
vê-lo. Esqueça-se, por vezes, da história e agarre-se à forma de contá-la. Compreenda
que um leitor comunica-se por leitura. Nele, cabem mundos sobrepostos e
linguagens peculiares. Cabem outras gentes. Cabe até você. Um leitor te lê
também. Não estranhe e nem arregale os olhos, ele está sempre acostumado a
coisas mais exóticas.
Agora eu posso dizer, com clareza e certeza, que estou a ser
compreendido quando disser de repente era uma vez