domingo, 8 de setembro de 2013

e por que de repente era uma vez

Provavelmente você está, neste exato momento, se perguntando por quê. Ou não, simplesmente está a ler o texto por me conhecer e ter, digamos, o hábito de me ler quando, ocasionalmente, escrevo por aqui. Ou nem isso, chegou aqui por um erro de navegação na internet. Perdeu-se no labirinto eletrônico e já que gosta de ler...

Eis a questão: ler. Levar dos olhos à cabeça, e consequentemente, ao corpo, físico e metafísico, e daí todo tipo de processo e elaboração do objeto de leitura.

Escrevo aqui para expor uma condição. Eu leio. Eu leio é a condição. A condição pela qual eu gosto de entender o mundo (o que eu entendo de mundo e o que eu não entendo nada) ou o que não é mundo. É uma espécie de portal que pode me levar onde eu não estou naquele momento, aonde, talvez, eu nunca vá (detesto pensar nisto!). Onde, finalmente, só acaba existindo pelo simples fato de ser eu o leitor, uma vez que acredito em mundos particulares. Fosse outro leitor, outro mundo, e assim um mundo para cada cabeça. E onde vai parar isso, não sei. A menor ideia...

Posso simplesmente ir parar no que não é mundo. No sentimento, nas sensações. no nada.

Vou sempre a algum lugar. Essa é a condição dentro da condição: O movimento. Estamos sempre órfãos de algum lugar e desejando outro. Estamos em trânsito. O que a leitura me proporciona, penso, é o prazer do trânsito, de desfrutar a vida com maior amplitude. Se a vida é exatamente um trânsito, por que não pavimentar mais a estrada, aumentar o percurso, sem de fato alterar o trajeto? Pegar um trem bala, um jato, uma carroça, um cabriolet, um cavalo sem sela, um fusca, um conversível, asas... uma varinha de condão. Obviamente não é para encurtar ou estender o tempo da “viagem”, mas para explorar o espaço existente nesse caminho, nesse trânsito. É transitar para além. É extravasar de transitar. É extransitar! (pirou, o João, coitado.)

Digo então, eu leio. E mais, eu gosto. E, ainda, eu gosto das possibilidades de vidas dentro da vida. Portanto, se você, leitor, me vir pela rua e se, por acaso, por acaso mesmo, porque é coisa rara, eu lhe contar sobre o que leio, o que li, o que lerei, e, que deus lhe proteja, se resolver falar do que escrevo, não pense mal de mim, nem faça conjecturas sobre o destino da humanidade... ou faça. Só digo que não é necessário. Entenda todo esse possível blá blá blá (lembre-se aqui da sua condição de raridade) como uma metáfora para a vida, para contar como vejo o mundo ou como não gostaria de vê-lo. Esqueça-se, por vezes, da história e agarre-se à forma de contá-la. Compreenda que um leitor comunica-se por leitura. Nele, cabem mundos sobrepostos e linguagens peculiares. Cabem outras gentes. Cabe até você. Um leitor te lê também. Não estranhe e nem arregale os olhos, ele está sempre acostumado a coisas mais exóticas.

Agora eu posso dizer, com clareza e certeza, que estou a ser compreendido quando disser de repente era uma vez

(e aqui, escolha a  pontuação que lhe apeteça...)